quarta-feira, 20 de junho de 2007

Impressões a posteriori



O que se quer dizer é sempre o indizível. Por isso a gente nunca pára de falar, inscrever, escrever ou pichar, entre outras coisas.

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Acho que felicidade é buscar sempre novos ângulos do que se é e inventar novos meios de fazer as coisas, principalmente as mais chatas.

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O mais difícil de tudo é aprender a jogar bem o próprio jogo. As regras são muito obscuras.

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Acho que amar exige tanto da gente que, se a gente não se amar o bastante, não agüenta.



Há pessoas espumantes, leves e doces. Há gente frutada, gente encorpada, madeirada, concentrada. Uns irradiam calor e conforto orgânico. Outros provocam dor de cabeça, acidez e gastralgia. E há pessoas que quanto mais vivem, melhor aprendem a viver. A gente humaniza muito os vinhos.






Estou lendo O vôo da madrugada, do Sérgio Sant'Anna. Não percam, vale a pena. É um livro de contos, textos com vida própria. Impressiona a unidade que ele conseguiu imprimir ao todo. Mais ou menos como uma família de muitos membros, onde nenhum é muito mais feio ou mais bonito que os outros, mas todos e cada um têm personalidades atraentes, cada qual a seu modo.
Isso não quer dizer que os contos de Sérgio sejam encantadores por serem light. Às vezes nem são gostosos de ler. Há em cada um deles um silêncio profundo, uma textura de treva que torna tudo natural, que chega mais longe do que a narração de um fato ou estado. Uma espécie de insondável que no entanto soa muito familiar ao leitor ao mesmo tempo em que o assombra um pouco. Os fatos são meros pretextos para chegar mais longe, e ele chega. Às vezes incomoda, outras comove ou assusta. Sempre contido, a mão hábil, a palavra leve, uma escritura elegante, sem apelações, nenhum excesso – e um efeito de mestre.
Quando leio um texto assim, fico um pouco ouriçada e me mudo por um tempo para o clima em questão. Tenho que me policiar pra não parecer meio maluca, mas não resisto. Certas leituras exigem uma resposta, sem o que a gente estaria perdendo muito de seus sentidos. Mesmo porque cada um de nós é uma mistura de dia e noite, e minha metade dia às vezes acorda de muito má vontade, vira pro outro lado e continua dormindo.

2 comentários:

Marco disse...

Adelaide,
Adorei estes seus aforismos. Não conhecia este blog (parece que você tem muitos, não é?).
Apreciei sobremaneira a comparação das gentes/vinho. Tem vezes que pessoas avinagradas irrompem no meu caminho. Mas, graças ao bom Baco, ultimamente tenho encontrado beuajolais de primeira...
Sobre o que escreveu a respeito do uso de nossa Língua, você está eivada de razão. Todo mundo acha que sabe escrever. Que é tarefa fácil e não uma habilidade que se tem de desenvolver ao longo de uma vida e mais cem anos. Daí, as atrocidades que se fazem/escrevem.
E tem os aviltamentos que se faz à cultura, ao idioma, com inserções descabidas de palavras em inglês, quando temos uma língua mais bonita e melhor para nos expressar.
Sua resenha do livro do Sant'Anna éstá primorosa. Parabéns.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

o refúgio disse...

Òtima postagem, Adelaide. Gostei imensamente dos teus pensamentos!
Um beijo.