A boneca está meio desconjuntada, braços de pano pendentes, cara de nada absoluto. Que bobagem, isso é uma contradição em termos. Como pode ser o nada absoluto, se é uma boneca, mesmo assim, quase se desfazendo? Verdade que existe o tempo – parte dela já virou pó, já não é a boneca que foi a princípio. E se não é mais aquela do início, começou a navegar no nada. Fico solidária mas um pouco assustada. O nada absoluto está em meu rosto também.
A formiga carrega seu pedaço de folha pelo caminho de pedra. Está no jardinzinho bem tratado, cheio de cores, que fica bem no centro do planeta e bem debaixo do pedaço da Via Láctea que protege nossos telhados.
Para mim ele está lá, mas o lá onde ele está é o aqui dele. Então podemos concluir que todos nós estamos em pelo menos dois lugares ao mesmo tempo. E ainda dizem que só santo Antônio tinha o dom da ubiquidade.
Daqui do escritório, tenho a sensação nítida de que lá dentro, na sala e nos quartos, talvez na cozinha, estão meus pais, meu irmão que morreu novinho, meus tios e avós. Experimento a sensação bem viva dos primeiros anos, quando morava com eles. Às vezes havia alguém mais. Não posso afirmar nada, já que estou aqui no escritório e não dá pra ver o resto da casa.
Perspectiva e seu grande amor, Sofisma, moram em bairros separados, Razão e Imaginação. Têm uma bela prole que aumenta toda vez que um deles vai visitar o outro. Uma de suas filhas, chamada Mentira, ficou muito famosa e tem numerosos imitadores. Mas a filha que mais influencia as pessoas é Ilusão, uma linda moça de enormes olhos verdes, que anda sempre viajando no Mundo da Lua.
14 comentários:
oi, adorei tudo, as perspectivas, muitas vezes nos levam a lugar algum, ou não! tudo depende de como encaramos os fatos.
bjuss!!!!!
Olá, amiga!
Passei para ler e deixar beijoca.
"Para mim ele está lá, mas o lá onde ele está é o aqui dele. Então podemos concluir que todos nós estamos em pelo menos dois lugares ao mesmo tempo..."
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AdÊ, que coisa mais bonita da porra (perdão)! Estou completamente identificado, do meu jeito, com essa passagem.
Estar distante e perto ou manter-se perto, mas distante é a ubiquidade de todos nós, acho.
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Abraço forte!
Várias perspectivas que podem levar ao engano de quem não estiver atento aos pormenores.
Gostei.Um beijo.
Adelaide:
Muito bom, muito mesmo!
Também gosto muito do que você escreve. Talento e originalidade não lhe faltam.
Obrigado por sua visita e espero por seu retorno.
Bj.
geo.métricas
micro
narrativas
[para nos
lermos]
Excelenete seu blog, com textos nteligentes e de alto nível
intelectual,difícil de se ver na blogosfera.
Estou achando, muitissimo bom e aos
pouco voltarei a comentá-los.
Serei seu seguidor.
Um abraço
Oi Adelaide!
Achei este e os outros textos,muito inteligente...Você sabe utilizar as palavras com maestria,pois há qualidade em cada linha.Parabéns!
Com certeza voltarei ao seu espaço,para acompanhar cada postagem!
Fica com DEUS moça!Abraços e bjs!Té daquí à pouco!
Gostei de conhecer este seu espaço.
Parabéns
Chris
Nada em sânscrito tem o sentido de infinito.
Donde podemos concluir que o nada é o tudo.
Perspectivas?
Todas ou nenhuma.
Depende, não é?
Olá Adelaide!
Os devaneios do bem, a nulidade do mal e a sustentação literária da coluna do meio aqui estão sábia e elegantemente reunidos. Parabéns!
Um abraço!
Ammmei tudo aqui no blog..parabéns..
Bjka e uma mega semana
Uma paixão desapaixonada
Uma razão desencontrada
Uma palavra vazia de sentido
Uma inquietação gerada do nada
A calmaria é o fim da tempestade
Ou será o princípio da tormenta?!
As velas recolhem o vento
Minha alma acolhe o que o coração inventa
Bom fim de semana
Doce beijo
Texto(s) maravilhoso(s), Adelaide. E muito bem complementado, em outra chave de discurso, pelo post seguinte.
Beijo!
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