quarta-feira, 4 de julho de 2007

Carpe internetem



Ao contrário do que se repete por aí, a leitura na Internet não é atividade superficial, fugaz. Ou melhor, é tão fugaz quanto qualquer leitura de texto pode ser, dependendo do leitor. Ler um livro é um deslocamento no tempo e no espaço, uma caminhada ao lado de alguém que te conta uma história, fala de seus estudos, declama poemas. É desejável também que seja uma troca de idéias, um exercício de crítica. Às vezes a origem de um sentimento de empatia para com o autor, seus personagens ou suas idéias. Tudo isso se aplica também à leitura virtual.
A Internet é voraz. Rima, mas não tem nada a ver com fugaz. O lobo mau da rede se chama mercado e se apresenta em piscantes popups, vertiginosas imagens de mau gosto que invadem o monitor sem serem chamadas e solertes transbordam das caixas de correio se a gente se distrair.
Quanto ao mais, a Internet é a invenção mais espantosa, arrebatadora e brilhante de que já se ouviu falar em matéria de comunicação democrática – aqui no Brasil mais ou menos democrática, porque a maioria ainda não consegue acesso regular, que aos poucos vai ampliando seu alcance.
Noves fora a certeza de que todo mundo quer aparecer bem na foto, que às vezes aquela beldade arrebatadora é agora uma simpática anciã mas ninguém sabe; que aquele galã de olhar definitivo sofre de um mau hálito insuportável e não gosta de tomar banho ou que o pai amoroso não paga a pensão dos meninos, resta a certeza de que na outra ponta da telinha existe um ser humano em busca de trocas, amizade, consolo ou oportunidade de mostrar seu trabalho, que pode ser muito bom e de outro modo ninguém além da família e amigos mais chegados ia conhecer. Não é pouca coisa.
Tudo que se pede a um internauta é mais ou menos o mesmo que se pede aos viventes deste mundo de tantos deuses: que não seja incauto, não se deixe levar por informações ainda não comprovadas devidamente. Em suma, que não seja otário.
Munido desse comprovante de vacina, deite e role, carpe a rede. Se você tiver objetivos bem definidos, melhor. Há muito que aproveitar – leitura das edições mais atualizadas dos jornais sem sujar os dedos e mais: literatura, artes, ciência e tecnologia, informações úteis sobre praticamente todos os setores e assuntos, viagens, cultura em geral. São dados reais ao alcance dos olhos, da inteligência e da sensibilidade de quem souber aproveitá-los.
No caso de contatos pessoais, observadas as normas do bom senso, só se tem a ganhar. Todo mundo quer mostrar o que tem de melhor. As trocas podem ser muito agradáveis; está comprovada a possibilidade de fazer amigos e existem casos de amores que deram certo e começaram por contatos virtuais.
Claro que há o risco do excesso que, além da LER – lesão por esforço repetitivo – e vista cansada, pode reduzir a vida ao que se vê no monitor, e em vez de aproximar as pessoas separá-las por uma banda larga. Mas essa tendência a virtualizar a vida não é defeito da Internet. O defeito é de quem a põe a serviço de suas limitações, de sua preguiça ou neurose, quando ela deve ser justamente o contrário – um instrumento para ampliar a visão do mundo e alternativamente enriquecer a vida real de contatos humanos. Primeiro mandamento para quem quer se dar bem usando a Internet: a dita vida real tem prioridade absoluta.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adelaide, estou aqui retribuindo visita feita a meu blog. Vou lendo com calma, conhecendo o seu "espaço".

Você falava de "carpe internetem". Taí uma coisa que não consigo fazer. Apesar de concordar contigo, de achar que ela é um fantástico e jamais visto instrumento de comunicação e interação, não me apetece muito. Desconfianças de mineiro, deve ser... Vejo muita idiotice e inutilidade na Web (não que não exista fora dela, mas a vulgaridade exógena já me bastava,rs). Carlos Heitor Cony diz que essa é a era da "Internet Lascada" e depois dessa pré-história virtual, talvez as coisas achem seu eixos. Espero que sim.

Quanto ao outro texto logo abaixo, fiquei intrigado: como assim "assombração não é feita pra assustar"? É só um efeito colateral? Mas estou brincando, achei interessante sua linha argumentativa. E lembrei-me do fascínio que histórias que tocam o sobrenatural exercem sobre crianças (eu, que sou contador de histórias).

Como disse, vou lendo aos poucos suas postagens. Tenho gostado. Um abraço.

lyz disse...

Adelaide,
Perdoe-me se eu estiver fazendo alguma confusão, estou num período depressivo que espero, seja pasageito, como tantos outtros que tive, dede os 16 anos.
Mas, se falo isso, é porque seu blog não é o UMbigo do Sonho, no qual eu costumava de tempos em tempos, regularmente deixar um comment em seus belos e bem-escritos posts?
Por favor, perdoe-me o estranhamento, não quanto a matéria deste post, altamente reflexivo, conscientizador e também, "por empréstimo", literário.
É quanto a topografia mesmo.
Se for mesmo você, a escritora e psiquiatra, que conheço e de quem gosto muito, receba meu abraço
E um beijo, maravilhada
Meg
Sou a Meg e meu endereço é este:
SUB ROSA FLABBERGASTED

Meg

Maria disse...

Olá Adelaide !
Seus textos são de fato um convite à leitura, e o melhor de tudo: uma ótima e prazerosa leitura !!! Beijo