quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Amores imprevisíveis



Imagem sem menção de autor.
 
 

O amor prega peças nas pessoas. Quando menos se espera, aquele sujeito que nos parecia tão antipático ou desinteressante revela uma face desconhecida e sem perceber começamos a pensar nele nas horas mais despropositadas, repetimos seu nome sem motivo aparente – motivos se inventam, é fácil – e um dia nos surpreendemos com o coração acelerado e um certo suor a esfriar as mãos em sua presença.

Sabemos exatamente o que estamos fazendo a cada vez que o nome dele vem a nossa mente e a nossa boca. Temos a exata consciência do que está acontecendo, mas fingimos para os outros e para nós mesmos que é casual – que coisa, não sei por que sonhei com fulano essa noite, imagina. Fulano gosta de abobrinha com berinjela, engraçado, não conheço homem nenhum que goste. E a gente até se arvora a fazer uma piadinha de vez em quando, camufla de crítica ou sarcasmo o que é amor novo.

É bom falar o nome de quem se ama, aquece o coração e dá uma agradável coceirinha em outras regiões da anatomia. Fulano tem a boca meio tortinha, não tem não? Ah, tem sim, repara só. Mentira. A boca de fulano é perfeitamente simétrica, até muito bem desenhada, mas é mais seguro achar defeitos que garantam o anonimato do sentimento. Supõe-se, segundo a lógica, que quem vive achando defeitos no outro não pode estar absolutamente encantado por ele. O problema é que a lógica é um instrumento muito frágil para tal instância, não aguenta o tranco, e a partir de certo momento o sentimento fala no olhar, por pequenos gestos impensados, vaza no tom da voz. A lógica, entidade sisuda e discreta pela própria natureza, começa a achar aquilo tudo demais e se recolhe resmungando sob a barraca do segundo plano como uma senhora ranzinza diante de um menino malcriado, que teima em não sair do sol, e deixa o sentimento todo iluminado, livre para se espalhar como o mar pela areia.

Chegados a esse ponto, só resta ir em frente. Se fulano notar, se prestar atenção àquela criatura que de uns tempos para cá está sempre visível em todos os lugares e lhe lança olhares tão atentos e se aproxima sem muito motivo para prosear e puxa assunto por qualquer pretexto, é porque também ele, o antipático, o sem-graça, está gostando da brincadeira, e a gente tem a satisfação, entre outras mais intensas, de verificar que estava redondamente enganada quanto ao mau juízo que fazia dele, Deus seja louvado.


12 comentários:

Janaina Amado disse...

Ah, o amor, Dade querida! Muito dele para você em 2010 - muito amor, amizade e criatividade (a beleza é consequência). Beijo.

Paulo Tamburro disse...

DEPOIS VOLTO PARA LER O TEXTO TÁ?

MAS , NÃO QUERIA SAIR, AGORA SEM LHE DESEJAR TODA A FELICIDADE DO MUNDO EM 2010.

FIQUE COM DEUS E UM ABRAÇÃO CARIOCA!

Gisela Rosa disse...

Grnade abraço para você Adelaide. Muito AMOR!

Gerana Damulakis disse...

Adoro seus textos (acho que já disse isso). Este está uma delícia: como você descreveu bem no 1º parágrafo (nossa, como é gostoso quando começa), lembrando que sabemos exatamente o que vem à mente a cada vez que pronunciamos o nome da tal pessoa. Amei o texto.

Kyria disse...

Um lindo ano para nós, com um amor lindo também!
Beijos

Barbara disse...

Amén.
Que seja!
*

Anônimo disse...

Dade, vim agredecer seu cometário tão simpático e me deparo com um senhor blog, tipo presente mesmo. Tudo de bom pra vc.

Mara faturi disse...

Que coisa mais querida Dade; simples e lindo...como deve ser mesmo o amor,
grande bj, grande 2010!!!

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Cara amiga.

O amor tem tanta magia, que por mais que ele possa nos trazer dor, é preferível sentí-la, do que viver sem ele.

Obrigado por cada palavra dividida em 2009. Pelas visitas e pelas lembranças.

Que neste ano de 2010, você possa ser o melhor presente na vida de alguém, dividindo o encanto da vida na construção do belo, do bem, do melhor do mundo.

Bianca Helena disse...

Deus seja louvado! Amém!!

2010 maravilha pra vc, mulher das belas palavras!

Letras Express !!! By Aline Braga disse...

Nossa!! Como isso tudo é verdade..rs
Ficamos meio bobas e piegas quando nos apaixonamos, mas confesso que amar e ser amada é algo que não tem preço...é bom demais!!!
O legal são os estágios do amor, que ás vezes adormece e renasce do nada, sendo completamente imprevisível.
Adorei o post, voltarei sempre...

bjs

Graça Pires disse...

O amor é assim: percebemos quando começa, não quando acaba...
Beijos.