O amor prega peças nas pessoas. Quando menos se espera, aquele sujeito
que nos parecia tão antipático ou desinteressante revela uma face desconhecida
e sem perceber começamos a pensar nele nas horas mais despropositadas,
repetimos seu nome sem motivo aparente – motivos se inventam, é fácil – e um
dia nos surpreendemos com o coração acelerado e um certo suor a esfriar as mãos
em sua presença.
Sabemos exatamente o que estamos fazendo a cada vez que o nome dele vem a
nossa mente e a nossa boca. Temos a exata consciência do que está acontecendo,
mas fingimos para os outros e para nós mesmos que é casual – que coisa, não sei
por que sonhei com fulano essa noite, imagina. Fulano gosta de abobrinha com
berinjela, engraçado, não conheço homem nenhum que goste. E a gente até se
arvora a fazer uma piadinha de vez em quando, camufla de crítica ou sarcasmo o
que é amor novo.
É bom falar o nome de quem se ama, aquece o coração e dá uma agradável
coceirinha em outras regiões da anatomia. Fulano tem a boca meio tortinha, não
tem não? Ah, tem sim, repara só. Mentira. A boca de fulano é perfeitamente
simétrica, até muito bem desenhada, mas é mais seguro achar defeitos que
garantam o anonimato do sentimento. Supõe-se, segundo a lógica, que quem vive
achando defeitos no outro não pode estar absolutamente encantado por ele. O
problema é que a lógica é um instrumento muito frágil para tal instância, não
aguenta o tranco, e a partir de certo momento o sentimento fala no olhar, por
pequenos gestos impensados, vaza no tom da voz. A lógica, entidade sisuda e
discreta pela própria natureza, começa a achar aquilo tudo demais e se recolhe
resmungando sob a barraca do segundo plano como uma senhora ranzinza diante de
um menino malcriado, que teima em não sair do sol, e deixa o sentimento todo
iluminado, livre para se espalhar como o mar pela areia.
Chegados a esse ponto, só resta ir em frente. Se fulano notar, se prestar
atenção àquela criatura que de uns tempos para cá está sempre visível em todos
os lugares e lhe lança olhares tão atentos e se aproxima sem muito motivo para
prosear e puxa assunto por qualquer pretexto, é porque também ele, o
antipático, o sem-graça, está gostando da brincadeira, e a gente tem a
satisfação, entre outras mais intensas, de verificar que estava redondamente
enganada quanto ao mau juízo que fazia dele, Deus seja louvado.
12 comentários:
Ah, o amor, Dade querida! Muito dele para você em 2010 - muito amor, amizade e criatividade (a beleza é consequência). Beijo.
DEPOIS VOLTO PARA LER O TEXTO TÁ?
MAS , NÃO QUERIA SAIR, AGORA SEM LHE DESEJAR TODA A FELICIDADE DO MUNDO EM 2010.
FIQUE COM DEUS E UM ABRAÇÃO CARIOCA!
Grnade abraço para você Adelaide. Muito AMOR!
Adoro seus textos (acho que já disse isso). Este está uma delícia: como você descreveu bem no 1º parágrafo (nossa, como é gostoso quando começa), lembrando que sabemos exatamente o que vem à mente a cada vez que pronunciamos o nome da tal pessoa. Amei o texto.
Um lindo ano para nós, com um amor lindo também!
Beijos
Amén.
Que seja!
*
Dade, vim agredecer seu cometário tão simpático e me deparo com um senhor blog, tipo presente mesmo. Tudo de bom pra vc.
Que coisa mais querida Dade; simples e lindo...como deve ser mesmo o amor,
grande bj, grande 2010!!!
Cara amiga.
O amor tem tanta magia, que por mais que ele possa nos trazer dor, é preferível sentí-la, do que viver sem ele.
Obrigado por cada palavra dividida em 2009. Pelas visitas e pelas lembranças.
Que neste ano de 2010, você possa ser o melhor presente na vida de alguém, dividindo o encanto da vida na construção do belo, do bem, do melhor do mundo.
Deus seja louvado! Amém!!
2010 maravilha pra vc, mulher das belas palavras!
Nossa!! Como isso tudo é verdade..rs
Ficamos meio bobas e piegas quando nos apaixonamos, mas confesso que amar e ser amada é algo que não tem preço...é bom demais!!!
O legal são os estágios do amor, que ás vezes adormece e renasce do nada, sendo completamente imprevisível.
Adorei o post, voltarei sempre...
bjs
O amor é assim: percebemos quando começa, não quando acaba...
Beijos.
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