Literatura é um pequeno abismo portátil onde de vez em quando a gente se joga. Vicia mais que qualquer droga. Às vezes, dependendo do regime de governo, pode ser até proibida. Serve para viver a fundo as coisas em que uma pessoa sensata não mergulharia, ou porque são repulsivas, ou porque não têm importância nenhuma de ordem prática.
É mais fácil dizer o que a literatura não é: não é útil, não dá dindim, não é pragmática, nem lógica nem relaxa ninguém. E ainda por cima às vezes tira o sono. Para o senso comum, literatura é coisa de maluco mesmo.
Mas quem precisa do senso comum? Para quem escreve, ela é fonte de alguma coisa que fica entre a alegria, o consolo, o alívio, a autoafirmação, o bem-estar do espírito, o refrigério do intelecto e a inefabilidade de um lado e, do outro lado, o trabalho árduo e persistente, para o qual se precisa muito tempo, paciência e solidão. Com o tempo, é quase a satisfação de uma necessidade orgânica. Sem falar no prazer que é ver um livro publicado, lido e comentado. Mesmo que o escritor faça aquela cara de modesto (é mentira, nenhum escritor é modesto), ele estará se sentindo orgulhoso de sua obra, compensado por ver aquele filho de papel e tinta multiplicado, circulando nas mãos de amigos e estranhos. Para ele, cada exemplar é O Livro. Ou, como diria Cortázar, todos os livros, o livro.
11 comentários:
Dade querida, acho que é isso mesmo que você diz...
voltei das andanças lá longe.
Que tal um café na quinta?
Beijo enorme e muita saudade
AnaG
SU CES SO!
Oi Adelaide!
Que linhas,héim?!Sua escrita esboça senso,sobre o que deseja expressar!
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Obrigada!
Fica com DEUS e té+!
Beijos!
oi, menina, vc disse bem. no mais, só deus sabe o que move um otário a escrever. rs. bons tempos na foto. estou menos anta agora, adelaide. perdi uns litros. será que a inspiração se acabará? kkk
bjs pra ti
ah, sim, perdi litros pq agora sou AAA, alcoólica anônima autônoma.
tchau
Cortázar sabe das coisas!
Bjooooooo!!!!!!!
Adelaide, dizer alguma coisa bela e nova sobre literatura, como você fez neste texto, é proeza pura!
Adelaide, como diria Sartre: "a arte é uma generosidade inútil", mas conseguimos viver sem ela?
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Abraço forte, Adelaide!
E sucesso
É exatamente tudo isso. Concordo com cada frase.
"Nenhum escritor é modesto"? Será mesmo? De todo modo, pulemos todos neste abismo. As outras opções estão longe de serem melhores. Um abraço.
È isso aí Dade.
Texto fantástico! Fala exatamente o que move um escritor. Obrigado pela visita ao meu blog. Estou acabando de publicar meu segundo livro de poesia (Cabeça, Tronco e Versos). Seguem aí dois poemas do livro.
Grande abraço!
CURTO-CIRCUITO (Victor Colonna)
De repente eu paro e olho: é ele!
E desengato marcha-a-ré crescente
Meu rosto fica roxo, vermelho
E desamarra-se o elo da corrente.
Curto-circuito, incêndio, tragédia!
E meu cabelo arrepiado espeta
E meu pulso desencapado te choca
E meu corpo endiabrado, capeta.
E meu peito pega fogo: vida
Um calor que se desprende e solta
Amor é caminho longo: é ida
É só ida. Não tem volta.
SUJEITO OCULTO (VICTOR COLONNA)
O problema são as conjunções desconjuntadas
As interjeições rejeitadas
Os adjetivos desajeitados
Os substantivos sem substância
As relações de deselegância entre as palavras.
É preciso superar o superlativo:
O absoluto sintético
E o analítico.
Achar o verso
Entre o verbo epilético
E o pronome sifilítico.
Falta definir o artigo inoxidável
O numeral incontável, impagável.
Resta procurar o objeto direto
Situar o particípio passado
E o pretérito mais-que-perfeito
Desvendar a rima
Desnudar a palavra
Encontrar o predicado
E revelar o sujeito.
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