Os convites para sites de relacionamento e chat, que chegam todo dia no e-mail da gente, em geral vêm em nome de alguém de nossa lista que pode não ser o autor da mensagem. Não são somente os vírus e spams declarados que chegam assim. Vêm em tom invasivo e falsamente descontraído, mas não passam de marketing descarado, já tão incorporado a nosso dia-a-dia que às vezes nem nos damos conta. Por que estranhos a léguas de distância estariam preocupados em nos trazer de volta amigos extraviados ou antigos colegas de escola e de trabalho? Quase sempre o mesmo pretexto para oferecer produtos supérfluos, serviços que ninguém pediu e outras mercadorias perfunctórias, esse tipo de mídia eletrônica onde piscam mil e um patrocínios de construtoras, lojas, hotéis, carros, utilidades, inutilidades, garotos(as) ou amigos de programa, que em certos casos pagam para se ofertar via internet.
Cada vez mais forças externas tentam dirigir os atos que deveriam ser de iniciativa exclusiva de cada um. Isso lembra muito 1984, de George Orwell, ou Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. Outro dia, revendo Zorba, o Grego (que filme!), e vendo os camponeses de Creta esperando a morte de Hortense para saquear sua casa, pensava na analogia entre aquela cena e a constante intrusão de empresas e pessoas que insistem em nos convencer de que o melhor para nós é o que eles querem – e eles sempre querem nos passar alguma coisa em troca de nosso dinheiro e/ou nossa submissão para fomentar seu poder.
Por conta dessa luta de interesses, que se disfarça de luta de ideias, este mundo às vezes parece um grande manicômio. O inconsciente coletivo virou um amontoado de noções sem fundamento e preconceitos distorcidos explorados por aventureiros. Diante destes, os sofistas da antiga Grécia eram seres sem malícia. Nos anos 1960 passamos por um período em que as ideologias se digladiavam e geravam debates e contendas sem fim. Agora porém as ideias e visões de mundo chegam aos pedaços, mal assimiladas e achacadas pelo mercado, pelos políticos e por aquele tipo de gente que corre atrás da fama a qualquer preço.
O lado virtuoso da comunicação em tempo real, que chega da televisão e da internet, traz em seu bojo dois vícios capazes de anular grande parte das vantagens de tanta rapidez: a informação chega muitas vezes mal elaborada e quem a recebe na outra ponta quase sempre deturpa seu sentido, por estar mal preparado ou desinformado de dados anteriores, sem os quais a notícia perde seu sentido principal. Diante disso, a mentalidade do público em geral flutua entre juízos precipitados e dúvidas sem resposta; e grande parte das pessoas desiste de entender e se acomoda na alienação, ou então assume uma atitude irracional diante dos acontecimentos.
Talvez tenha chegado a hora de reunir de novo na praça os pensadores, os artistas e o povo, como faziam os antigos gregos na ágora. Quem sabe ainda se consegue plantar em nossas cabeças a semente de uma reflexão sem compromisso com os interesses do dinheiro, do poder e da violência? A liberdade humana é um conceito pouco claro, porque, em qualquer caso, é sempre muito limitada. Mas sem essa reflexão, a liberdade de cada um de nós se reduz a miragem, palavra vazia do vocabulário politicamente correto, e só.
Foto Bey Harrison.
18 comentários:
Olá amiga Adelaide é sempre uma grande satisfação voltar aqui, registro minha gratidão por sua amizade, atenção e gentileza, obrigado mesmo de coração por sua visita e comentário, tudo isto nos fortalece e aproxima. A casa é nossa volte sempre. Saiba que admiro muito o seu trabalho. Realizado sempre com muita Inteligência e excelente qualidade, parabéns pela ótima escolha postada, uma maravilha, meu reconhecimento e votos de muito sucesso e brilho.
Quero compartilhar com você o poema abaixo do nosso imortal Vinícius de Moraes:
“Certas palavras podem dizer muitas coisas;
Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;
Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho;
Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;
Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,
Assim como você que deixarão belas lembranças para todo o sempre. Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.”
Desejo uma semana repleta de grandes realizações e alegrias extensivo aos familiares. Forte abraço, paz, luz, saúde, prosperidade e muitas bênçãos. Fique com Deus. Felicidades.
Valdemir Reis
Adelaide, é fantástico seu texto, claro, conciso e vai direto ao ponto.
Liberdade é muito mais que conceito, e para usufruí-la é preciso estar atento às armadilhas, e não são poucas.
Parabéns,
beijos
Uma passagem, entre outras, do seu texto com que me identifiquei muito: "este mundo às vezes parece um grande manicômio"
Adade,
Que texto bom!! E como nos faz pensar nessas manipulações de nossas mentes!! Como tentam e pior, muitas vezes conseguem!
Tão difícil escapar ilesos sempre, né,?
Bjs,
Carol
É, hoje não esperam mais a pessoa morrer para saquear-lhe a casa, como na ótima cena de "Zorba" que vc. lembrou: já nos arrombam e saqueiam desde a madrugada até o anoitecer! Também sinto muito essa invasão da privacidade, me choca.
Olá ADELAIDE
O assunto que aqui traz é uma realidade do nosso dia a dia...digamos que é um dos lados mais escuros do NET.
Por mim confesso que, vai tudo para o lixo.
Muito obrigado pela amável visita ao Arte Fotográfica.
Bjs
G.J.
Urgente e necessario seu texto,clarificador na mensagem e tras nele um alerta pra nos que lida todos os dias com net, tens toda razão quando diz que isso aqui muitas vezes parace um manicômio,parabens.
otimo domingo á voce.
beijo!
Amiga honrado e feliz por visitar este importante, belo e original espaço... Registro a minha imensa satisfação ao passar aqui, valeu! Quero compartilhar com você o poema abaixo de William Shakespeare
”Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.”
Votos de um final de semana divertido e repleto de alegria. Muita prosperidade e bênçãos. Paz, luz, saúde e proteção. Felicidades, um fraterno e caloroso abraço. Fique com Deus.
Valdemir Reis
a-do-ro!
Mil caminhos
Esta viagem sem velas nem vento
Este barco na bolina das ondas
Esta chuva miúda transborda sentimento
Amarras prendem o gesto
Arrocham um coração que bate incerto
Uma gaivota retoca as penas com espuma
Levanta voo em rumo concreto
Partilha comigo “100 Anos de Ilusão”
Mágico beijo
Independência absoluta não existe. Vivemos numa sociedade de interdependências que se expandem em progressão geométrica
(José Saramago)
Mas, sobra a liberdade de às vezes, com certas coisas, poder usar o não.
Adelaide, olá!
Sítios virtuais de relacionamento são os vírus da solidão...
- Pimenta
Boa tarde Adelaide!
Incrivelmente inteligente,as suas postagens...Nos faz, refletir!Sucesso sempre!
Abraços e té+!
Libertar-se na liberdade,desde que com petica!
Bom demais o texto e tudo aqui.
Volto!
Denise
Ops......é ÉTICA....corrigindo rs
e mesmo errando rs,ainda volto!
De
Vim te agradecer sua visita e aproveitei para conhecer seu blog, gostei.
Tem flores la pra vc.
beijooo.
Adê, acredito que o tempo da liberdade física já acabou. Acabou com as câmeras nas ruas, nos muros, no trabalho, nas escolas... E sempre a desculpa da "segurança". A modernidade é sinônimo de controle absoluto. Cada vez mais me reporto ao filme "Um sonho de liberdade" quando Tim Robins está na solitária, mas sua mente está ouvindo música clássica! Liberdade virou literatura, é o subjetivismo!
Que o façamos!
Que voltemos a pensar e a falar entre nós, as pessoas, e não apenas a emudecer, obedecer, calar.
[sempre me lembro dos pensadores nas praças, amei!].
Aqui meu abraço e beijo,
Eliana
Postar um comentário