terça-feira, 3 de junho de 2008

Notas do cotidiano


Foto Fernando Gonçalves.

Hoje de manhã, quando descia para o trabalho, vi Kafka de pé num ponto de ônibus. Vestia um terno marrom escuro, paletó aberto, e uma gravata com toques castanho-dourados que lhe caía muito bem, um pouco agitada pelo vento. Olhava o mundo e o trânsito com a mesma cara que a literatura imortalizou, com menos gomalina nos cabelos. E imagino que agora terá tantos motivos de inspiração que talvez desista de escrever, porque a realidade já lhe tomou a frente, sendo atualmente mais kafkiana do que ele.
O porquê fica por conta das muitas respostas possíveis, todas certamente muito apropriadas.


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Quanto às ameaças que nos rodeiam, não nos deixam outro remédio (a nós e ao presidente) do que pensar em outra coisa, ao bom estilo histérico de fingir que não está acontecendo nada que uns discursinhos delirantes não resolvam. Brasileiro tem bom coração, povo bom esse, se sensibiliza com qualquer desculpa esfarrapada. Além disso tem em comum com o alto dignitário essa paixão pelo futebol que às vezes facilita tanto a vida dos dignitários. Entende também perfeitamente que o presidente podia estar distraído na hora em que novos golpes eram combinados ao lado dele, acordos ominosos se fechavam e autorizações de desmatamento eram assinadas a seu lado. Vai ver o eu do presidente pairava no céu dos altos desígnios e das metáforas, e quem estava ali era só o mim.

7 comentários:

Huckleberry Friend disse...

Kafka no quotidiano... é verdade, está tudo tão kafkiano que só falta o homem aparecer-nos na paragem do autocarro. Um beijo, AA.

Nando Damázio disse...

Gostei da leitura agradável, principalmente por falar a respeito de Kafka, e também da beleza ímpar da imagem !!

Abraço !!

Anônimo disse...

Oi, Adelaide...

A realidade está sim mais kafkiana que o próprio, mas e aí? Que poderemos fazer, minha amiga? Talvez olharmos essa realidade com olhos brincalhões,fugidios, coisa que já anda acontecendo com certa frequência.

Beijão.

Marcelo F. Carvalho disse...

O problema todo é que Brasília é muito distante... Dá uma gastura, uma vontade de assistir ao futebol... Aquela ilha lá e nós aqui...
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Pena alguns políticos serem... como dizer? Descomprometidos com a "res publica".
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Abraço forte!

Anônimo disse...

Adelaide, ver o Kafka ainda não é tudo. Pior vai ser quando começarmos a ver centenas de baratas humanas andando pra lá e pra cá. Ou já não é assim?

Um abraço.

Cris disse...

Boa semana, Adelaide.

Beijão.

Ivo Korytowski disse...

Obrigado pelo comentário simpático deixado no meu Literatura & Rio de Janeiro!