domingo, 14 de novembro de 2010

Náuseas



Eu sei, eu sei, o Natal está chegando, é hora de votos alegres, bolinhas cintilantes e barbudos suarentos de roupa vermelha. Dependendo do contexto, tudo isso também pode ser uma náusea.
Assim como gente jogando lixo da janela do carro; notícias sobre a CPMF; a cara do político safado. Autoajuda de ocasião, conselhos impossíveis, como aqueles que ameaçam você com câncer e infarto caso não os siga – e se você resolve segui-los, não tem mais tempo nem de ler duas páginas por dia ou pegar um cineminha, chegando à conclusão de que a vida não vale nada. A revista com suas caras cheias de dentes fake. Programação de tevê nos fins de semana; gente que se acha o máximo. Correntes por e-mail; textos assinados por autores famosos que nunca os escreveram; mensagens de nove megas pra você perder tempo de abrir e ver um desfile de figuras bregas e textos bobocas. Baile funk ou festa que nunca se acaba no play do prédio vizinho. Os preços nas livraria (campanha pela multiplicação dos sebos já!!!). Falsidade, mentira desnecessária, deslealdade, corrupção, exploração, plágio. Políticas (?) de educação no Brasil. Submissão cega à moda, o consumismo fútil que agrava as desigualdades sociais. Estupidez, violência, agressividade liberada, desrespeito pelos outros e pela natureza, falta de educação, insensibilidade aos problemas alheios. Candidatos a ditadores em geral.
É nauseante não poder confiar nas pessoas, às vezes vizinhos ou colegas de trabalho. É de dar calafrios ter que andar na rua com medo de quem passa. É uma ressaca ser acordado às sete e meia da manhã por um telefonema de marketing. É de dar desgosto ver a Barra da Tijuca transformada em Miami. E não dá mais pra aturar a avalanche de efeitos especiais – e a barulheira que eles fazem – dos filmes americanos médios, os mais numerosos, a visão de mundo boçal que impregna esses filmes, nem a babaquice das comédias que se repetem ad nauseam nos telecines da vida.
Tirando mais uns tantos itens nauseantes, que ia ser dose ficar enumerando, mas que a gente atura e acaba ficando ranzinza por causa deles, vamos enfim reconhecer que o Natal pode ter momentos genuinamente gostosos, de alegria e até de felicidade. É desses que desejo aos queridos amigos do blog.
Até a volta, queridos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Vinhetas

As palavras podem servir como lanterna de pilha na hora do apagão do sofrimento. Mas pode ser pouco para o coração, esse músculo exigente. Ele ainda prefere mão amiga no ombro, calor de abraço ao vivo, coisas ditas cara a cara. Ainda que a amizade virtual dure e crie raízes no tempo, faz falta a imperfeição humana da presença.



Há senhôras da sociedade, cavalheiros formados em Harvard, gente com antepassados ilustres de nossa história e até pessoas simples, legalistas, conservadoras, seres medianos sem culpa no cartório que não admitem ser postos em pé de igualdade com gentinha da classe D. São diferentes mesmo, é claro – não existe alguém igual a outro neste mundo, nem gêmeos idênticos. Mas todos, sorry, se nivelam em certas semelhanças, e nem falo só dos sete palmos. Tão lembrados?



Amor e ódio são como dois rios que nascem juntos e seguem assim até que uma chuva forte misture suas águas. Não sei se é mais fácil limpar o rio depois da chuva ou o coração depois do desentendimento.