Há muito tempo, o conceito de felicidade perdeu aquele traço de perenidade que os muito românticos ou ingênuos lhe emprestavam. O “foram felizes para sempre” sumiu de todas as histórias que vieram depois de Branca de Neve e Cinderela. Isso, quando se fala de felicidade a dois, ou seja, harmonia, bom entendimento mútuo, respeito e amizade que coexistam com o amor.
Mas ninguém é obrigado a ser feliz a dois. Esse estado ou
sensação de plenitude exige mais que apenas a presença de um parceiro. E a
despeito das opiniões em contrário, é bem possível ser feliz, genuinamente
feliz, vivendo sozinho. Conheço alguns exemplos de pessoas assim.
Analisando a vida e o comportamento desses seres
bem-aventurados, cheguei à conclusão de que a primeira condição para ser feliz,
sozinho ou acompanhado, é estar bem consigo mesmo. Um bom parceiro pode ajudar,
mas não pode ser responsabilizado pela infelicidade do outro, se esse outro
viver moído de frustração, mágoa ou inveja. Alguém incapaz de se identificar
com um semelhante, de rir ou sofrer junto. Prazeres mesquinhos que deixam um
rastro de destruição, drogadição, egoísmo mórbido, egocentrismo irrestrito e
seus derivados são inimigos do estado de felicidade. Isso nem é novidade, é
quase intuitivo. Mas então, que droga é isso de felicidade?
Há uma propaganda na mídia que começa perguntando “o que faz
você feliz?”, para em seguida mostrar o estoque variadíssimo de alguma loja –
ou será uma marca de carro? Não importa muito o produto veiculado, mas o espírito
da coisa. Confunde-se constantemente a alegria causada por uma boa compra ou
por um novo namorado com felicidade. Isso é euforia, satisfação, estado
passageiro muito agradável e que se confunde facilmente com felicidade. Passa rápido, e os motivos de tristeza ou ansiedade ficam mais fortes, quando se percebe que nem a estabilidade financeira nem a nova paixão preencheram aquele vazio sabotador do bem-estar.
Uma das pessoas que considero felizes me diz que atribui sua
paz interior a vários fatores, um dos quais seria a realização profissional. Imagino
que sentir-se satisfeito com o que se faz é meio caminho andado. Ou um terço de
caminho, vá lá. Quando se tem a sorte de acertar nessa confusa loteria que é o
mercado de trabalho, talvez se esteja conseguindo mesmo uma garantia relativa para
viver em paz, e nem falo de altos rendimentos ou posição de destaque. Essa
amiga, uma modesta costureira e artesã, vive numa cidade pequena da Bahia e
mora numa casa simples de vila, onde cultiva algumas das plantas mais bem
cuidadas que já vi. A alegria de ver sair das próprias mãos um objeto ou uma
roupa que atrai clientes e merece elogios é um motivo de alegria quase
permanente, além de garantir a subsistência dela e do filho de dez anos, que
perdeu o pai há três. “Não posso dizer que não sinto falta do Daltro”, ela diz,
“mas apesar de chorar muitas vezes com saudade dele, eu me sinto muito feliz com
nossa vida”. Será boa consciência? Será o sentimento de ser uma boa mãe? Não
sei, mas Dalva – o nome dela é Dalva – é uma mulher inequivocamente feliz.
Outro, um conhecido daqui do Rio, um homem meio calado mas
muito bem-humorado, é autor de alguns dos textos mais inovadores e gostosos de
ler que conheço. Aposentado há um ano, acha que o que ele e a mulher recebem é
suficiente para curtir a vida do jeito deles, sem grandes luxos. Resolveu se
dedicar ao que gosta mesmo de fazer, que é escrever e pintar – e são dois
pintores, porque Gisela, a mulher, também tem bons trabalhos de pintura e
ilustrou um bonito livro artesanal para dar de presente ao marido escritor no
Natal. Esse escritor anônimo tem contos, muitos, dois romances, roteiros de
novelas e um roteiro de filme. Tentou publicar em editoras “de autor”, mas se
desiludiu com o mercenarismo e o descaso delas pelo autor. Está preparando um
blog, que talvez vá se chamar Memórias de Agora, onde pretende mostrar seu
trabalho. Tem dois filhos que já não moram com ele e a mulher, e seus dias, que
tinham tudo para cair numa rotina desesperadora, são preenchidos por pesquisas,
exercícios de culinária, bons filmes e longas conversas com os amigos com quem gostam
de sair ou convidar para sua casa.
“Não preciso mais correr atrás de nada”, ele me disse,
quando perguntei por que não vai mais à luta para publicar seus escritos. “Quero
aproveitar os anos que ainda tivermos de vida para viver a fundo nossa
felicidade. E acho que não seria justo comigo e com Gisela continuar ralando
pra conseguir mais uns trocados”. Gisela não disse nada, mas teve um gesto de
carinho explícito, e os dois se abraçaram com a cara iluminada de quem está em
paz com a vida – e consigo mesmo.
Há outros casos, gente com a vida limitada por doenças ou perdas
que deixariam em desespero quem não tivesse essa âncora interna, difícil de
explicar e de entender, que no entanto faz de gente aparentemente “perdedora”,
como alguns gostam de dizer, vencedores da guerra mais difícil de ganhar, e que
se trava dentro de cada um.
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Prêmio BLOG VIP concedido por Maria Teresa do
blog Ouvindo meus Botões.
Obrigada, Maria Teresa!
O
Bem, o Mal e a Coluna do Meio agradece todo
contente. Estão todos convidados a
visitar o Ouvindo meus Botões, e garanto que vão gostar!
Manda
o regulamento que se escolham dez blogs para repassar o selinho e o prêmio. Acontece
que sou ruim demais no que diz respeito a regulamentos. Além disso, há muito
mais que dez blogs merecendo prêmios por aí, e meus leitores são todos vips. Vou
deixar o lindo selinho disponível para quem quiser levá-lo. Caso desejem repassá-lo
depois de acordo com os mandamentos do prêmio, fiquem à vontade.
14 comentários:
Dade,
adorei teu post,
O que faz você feliz?
goiabada cascão com queijo,
Fazer amizades que durem
A minha casa,pois eu a comprei e paguei com o meu trabalho,(meu lar).
esse momento,pois estou compartilhando meu melhor com você
Boas energias!
Mari
Dade,
corrigindo..
O que me faz feliz:
bjs
Dade:
Como você já adiantou: autoestima, que envolve harmonia e ternura pela vida. Sempre acreditei que para a pessoa ser amada, para sentir-se realizada em todos os aspectos, ela inicialmente deve amar-se a si própria.
Você ganhou o PRÊMIO BLOG VIP. Basta ir até o meu blog, copiar o selo e eleger os 10 melhores blogs, de acordo com sua opinião. Essas são as regras. Depois, cite-os em seu espaço, não se esquecendo de fazer o convite para que os seus leitores visitem o blog que a elegeu. Parabéns! Beijos,
MTeresa.
Olá Dade!!
Então...o alvo apontado pelo mundo para alcançar a felicidade me parece ser o que pontua menos. Acredito que com o avançar da idade percebemos que precisamos de muito pouco para vivermos felizes.
Correr atrás do vento...é o que a multidão faz hoje, ficando cega para beleza dos detalhes de um dia-a-dia cada vez mais escondido pelo dióxido de carbono exalado pelos ônibus e pela banalidade da violência urbana.
Estes textos estão clamando, desejando a ida para um livro. Dade: já tem muito material de primeira, coloca tudo em livro.
O que me faz feliz? Livro.
Não sei o que me faz feliz.
Acho que é não saber.
Outro post para se guardar.
Abraço forte!
sempre aprecio suas letras,
muitas vezes em silêncio
posso dizer que não faço nada de extraordinário
e ainda quero um jardim e uma horta pra cuidar
sei, apenas
que minha felicidade está em percorrer o caminho =]
dias de luz
Q.
A felicidade é feita de pequenos momentos...
Gostei de ler o seu texto.
Um beijo, Dade.
...acho que não seria justo comigo e com Gisela continuar ralando pra conseguir mais uns trocados
Poucos, muito poucos, alcançam esta compreensão.
Faz-me feliz, entre outras coisas, vir aqui beber da sua sabedoria, amiga.
Ótimo fim de semana.
Beijos
Dade,
O que me faz feliz? A única certeza que tenho é de que a felicidade é fluida, mostra-se bem pouco sólida. Viver é alternar bons e maus momentos.
Grande beijo
interrogas
os caminhos
mais fundos
[na superfície
dos teus textos]
*obrigado*
*beijo*
MAIS LOGO, um novo capítulo da história de Alice.
lá no,
... continuando assim...
Aceito , e agradeço as vossas sugestões ... talvez a letra esteja pequena... talvez o blogue possa estar confuso.... talvez ... e talvez :)
talvez nem gostem da história...
Enfim...qualquer coisa, digam.
até logo
obrigada por seguirem
Bj
teresa
http://tomatenele.blogspot.com/
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