O tempo, corpo abstrato que dividimos arbitrariamente em anos, meses, dias, minutos e segundos, é uma espécie de casa do Universo.
O mar, metáfora aceitável do tempo, agita, embrabece, espuma e fura diques – que o diga a Holanda. Gota a gota, caminha de águas acima até os furos mais altos, e um dia pode carregar grandes fatias da Terra num bojo azul. A água, que forma a maior parte do planeta em que vivemos, é tão essencial à vida quanto o tempo e toda a natureza que nos cerca.
Informam os entendidos que, se o calor dos humanos delírios de ambição continuar degelando calotas polares e geleiras, muitos litorais podem vir a ser engolidos, o que inclui nossas amadas cidades do Rio de Janeiro, Angra, Paraty, Arraial e Búzios, sem falar nas praias do Nordeste – Recife, Natal, Fortaleza, o Farol da Barra, Itapoã! –, e o Sul (Floripa não, por favor!). Lá se vão os surfistas, a ilha do Mel, a serra do Mar com Morretes e Antonina, essas cidades de sonho, e muito mais. Sem falar no resto do mundo: Nápoles, Veneza e as ilhas gregas, o Caribe, o Havaí... E não só as praias, já que o litoral é muito mais do que apenas esses paraísos do sol.
O tempo é uma entidade abstrata, mas a humanidade, composta de entidades concretas e operantes, prepara uma armadilha para o futuro.
O tempo é uma entidade abstrata, mas a humanidade, composta de entidades concretas e operantes, prepara uma armadilha para o futuro.
Na outra ponta da insensatez, ainda jogamos água fora – a água de beber para humanos, animais e vegetais; a água essencial, que lava nossas mazelas e conserva a vida na Terra. Já fomos avisados sobre a escassez que aumenta, mas isso teve um efeito desproporcionalmente pequeno sobre o desperdício. Incorrigíveis, continuamos achando que a água e a natureza não têm fim; poluímos, corrompemos e desmatamos, aquecendo o lugar onde terão que viver nossos descendentes, secando nascentes e deixando de legar um mundo melhor para os que vêm por aí.
Assim o tempo passa e já não sabemos se não será muito tarde para salvar a vida, que vai se afogar ou morrer de sede. O tempo de cada coisa sempre chega, pelo mar ou pela terra estéril, e nos afeta sempre. O que fazemos a cada momento, dia ou ano de nossa vida tem sempre consequências, boas ou más. Temos a sensação que o tempo foi domesticado porque o prendemos no calendário e nos relógios, e que por isso ainda vamos conseguir consertar as leviandades de agora.
Seria tão bom que os donos do mundo caíssem na realidade e percebessem que nosso domínio sobre o tempo é ilusório. Verdadeiro é o descaso de quem põe os interesses do lucro acima dos valores da vida.
E seria igualmente importante que cada pessoa, pelo pequeno poder que a própria existência lhe confere, percebesse a força de seus gestos, aparentemente insignificantes, reunidos aos milhões e bilhões de outros gestos mínimos dos semelhantes de todo o mundo: transportes sem poluentes, mais respeito pelas florestas e matas, mais uso da energia solar ou eólea. Que cada um educasse seus filhos com a visão de um mundo em que, longe do individualismo comodista, do consumismo e da indiferença, prevalecessem a solidariedade e a preocupação de poupar, conservar e reciclar o que fosse possível, buscar formas limpas de energia e rever os conceitos de nutrição e vida saudável.
‘Copenhague é aqui’
Quando faltava bem pouco para o início dos debates, o Greenpeace divulgou imagens da destruição da Amazônia. Vinte fotos obtidas durante dez anos podem ser vistas gratuitamente em um centro cultural independente de São Paulo, durante o evento “Copenhague é aqui”, que aproveita o momento para discutir temas ambientais. O programa inclui filmes, seminários e instalações de arte. A mostra vai até 20 de dezembro, e seu lema é “para ir além do debate político, para alcançar o coração das pessoas”.
Fotos Daniel Beltra, do Greenpeace.
9 comentários:
Parabéns pela postagem, gostei muito.
Realmente devemos fazer algo para mudar o que está errado. Pra frente e avante!!!
beijos Aline
Fez um ótimo texto e me fez parar para pensar mais seriamente no assunto da água.
Um texto para reflectir.
"poluímos, corrompemos e desmatamos, aquecendo o lugar onde terão que viver nossos descendentes, secando nascentes e deixando de legar um mundo melhor para os que vêm por aí."
Obrigada. Um beijo.
Dade
Ó timo texto.
A natureza já esta se vingando e o povo não se corrige.
Amanhã poderá ser tarde demais...
Quase me dá um troço quando
( caminhando), eu vejo desperdicio de água por ai,principalmente em frente a hoteis para diminuir o pó e refrescar. Um absurdo!
bjs
Sentindo-me como que vivenciando um filme de efeitos especiais, enquadrado no gênero "terror", vou assistindo ao sumiço das ruas de Olinda, de praias do Recife...
O sertão se tornando cada vez mais desértico, quiçá um alarde [profano?] profético de António Conselheiro às avessas.
Sim, tantos foram os alertas daqueles "loucos lunáticos", ativistas agitadores que os poderosos repugnaram.
Agora, sentem na pele, cada vez a arder mais intensamente, como um câncer, o arrepio quente do medo de serem exterminados porque, dos mais "racionais" dos seres, o suicídio foi escolha de alguns sobre uma espécie chamada homo sapiens que um dia [des]habitou a terra.
Teu texto merece estar em salas de aula, Dade.
Um beijo.
Katyuscia.
Brilhante colocação .
Mas acontece que se não começarmos a pensar na ecologia interna/pessoal, onde começa o ambiente de cada um,não haverá a alavanca para que os Arquimedes defensores dos ambientes movam algo.
1 abraço.
Dade querida, obrigada pelas mensagens... recebo todas e as guardo com carinho. Tenho vindo pouco pela escassez de tempo, mas seu oásis já está no meu "itinerário" :)
grande beijo e boas festas!
Oi Dade, texto bem atual e esclarecedor! Valeu!
Abraço,
Lais.
Como sempre um texto cheio de verdades e de ponderações imbatíveis! O planeta está assistindo à morte dos rios e oceanos, as pessoas comentam sobre a tragédia que nos ronda e muita gente lava calçadas com jatos fortíssimos e esquece a torneira aberta ao escovar os dentes.
Beijos.
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