terça-feira, 3 de março de 2009

Leitura perfumada




Andei relendo as Histórias de cronópios e famas, do Cortázar, autor e livro pelos quais tenho especial ternura. (É engraçado como certos livros ficam amigos da gente – ou a gente deles, talvez seja mais realista dizer assim.) Cronópios então é um de meus melhores e maiores amigos-livros. Assim como os amigos-gente, eles também se mostram um pouco diferentes a cada vez que os encontramos. Não ficam mais gordos ou mais magros, mas envelhecem e amadurecem, física e emocionalmente. À medida que o tempo passa, vão firmando a imagem mental que temos deles, aprofundam os sentidos de seu texto e deixam perceber novos sentidos que antes nos escapavam. Pode-se dizer que vamos conhecendo melhor nossos livros a cada leitura, o que certamente tem a ver com nosso próprio auto-conhecimento e maturidade.
Reli as Histórias pela quinta ou sexta vez, e elas sempre me dão um enorme prazer e me fazem rir. Mas nessa última leitura descobri um atrativo inusitado em meu exemplar: sem eu saber como nem por quê, o livro ficou perfumado. Não que o perfume de minhas mãos tivesse passado para ele. O cheiro é outro: é meio madeirado, um pouco sândalo, um pouco poeira, com um toque bem leve de baunilha que o redime e o deixa realmente uma delícia. Um perfume com um bom fixador, porque impregnou o livro inteiro, de capa a capa. Um perfume masculino, com certeza – e que agora associei a Cortázar.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ah, Adelaide, do J. Cortázar, eu só li Bestiário e o Jogo da Amarelinha. Gostei dessa idéia de "amigo-livro"; vou usar lá no meu blog.
Livro ganha aroma? Nunca pensei nisso. Ainda mais associar o cheiro ao autor.

Modos de afeição à Literatura, diversos e intensos, sinestésicos, penso eu.

Um abraço.

Janaina Amado disse...

O cheiro amadeirado do seu Cronópios chegou até mim.

Janaina Amado disse...

Adelaide, eu de novo, respondendo ao seu ótimo comentário no acreditando: menina, mas você não tá se soltando no sonho, no desejo! Releia lá o que escreveu: tudo (com exceção da família) com o que você sonha "tá difícil", pode ser que não saia, "não há tempo" etc. Quéquéisso, mulher? Pra sonhos não há limites, impedimentos, eles sempre se realizam, não é mesmo? Se a gente sonha inibido... fica mais difícil de conseguir no real. Desculpe a intimidade, Adelaide, é que a cada dia me sinto mais próxima de você. Beijo!

Gisela Rosa disse...

Belo o seu texto Adelaide! encantador....me lembrou uma imagem de Borges quando fala de uma estátua que cheira a rosas em "Dois animais Metafísicos", dos Seres Imaginários...

Um grande abraço

Anônimo disse...

Adelaide, sabe que descobri que alguns dos meus livros também têm cheiros?... Mas só os livros-amigos! "Cem anos de solidão" tem cheiro de flores murchas, "Sagarana" tem cheiro de mato e curral (que é um cheiro bom, porquanto me é atávico), "O apanhador no campo de centeio" me cheira a cigarro e cerveja, meu "Novo Testamento" asperge um perfume de paz...

Milena Magalhães disse...

Adelaide, faz muito pouco tempo que li Histórias de cronópios... e foi uma delícia! Li pq uma amiga muito especial me chama sempre de "Cronopinha". Então, eu lia e ria, imaginando as razões pq eu tinha ganhado tal apelido. E como é bom o livro! Puxa, tomara que meu livro tb ganhe aroma!