sábado, 21 de fevereiro de 2009
Ontem perdi o emprego
Todos estão se preparando ou começando a almoçar. Olho a cama desfeita e meu pé toca o chão frio, é primavera. Está entrando alguém pela cozinha. Chove há três dias, as ruas estão meladas, e ontem tirei um casaco do armário. A noite foi inquieta, o telefone me fez ter um pesadelo com duas caboclas e suas filhas, sorridentes, cevadas e com colares de pérolas, tentando tirar de minha mão o controle remoto da TV. Eu resistia e mandei que arrumassem a geladeira. Acordei com o último toque do telefone. Uma e vinte. Havia acabado de pegar no sono. Liguei a TV e fiquei ouvindo um ex-embaixador velhinho sem ver sua cara flácida e manchada. Meu estômago parecia desgostoso. Levantei e fiz um chá. Foi bom. Fiquei ouvindo Schöenberg bem baixinho e dormi de novo. Às dez acordei muito triste, depois de novo ao meio-dia. Saí da cama ouvindo alguém entrar, era Cida, a vizinha, que tem a chave para emergências – ai, desculpa, vim buscar uma panela – panela não é emergência, Cida. Ela sai, fecho a porta e penso que depende. Aí faço outro chá e torro o pão de ontem cortado bem fininho.
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6 comentários:
Adelaide, fiquei na dúvida quanto ao texto: aconteceu com você ou é ficção?
Um texto triste, de solidão.
Beijos.
adelaide
lindo o texto, parabéns!
um abraço querida
fátima
Estamos sempre entre o que é e o que deixa de ser e quando não estamos dormindo, sinal de que acordado é o nosso estado com ou sem gosto de pão torrado.
Cadinho RoCo
A perspectiva muda completamente quando não se tem emprego. As coisas são vistas meio nubladas, imprecisas e até mesmo delirantes (como no seu texto) ou aumntadas demais. Sei o que é isso. Graça Pires disse que foi um texto triste. Triste como a vida, no fundo, sempre é.
Um abraço.
olá, adelaide
passa na rua do mundo, tem dois selinhos pra vc
beijos e boa semana
fátima
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