sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O império se estende


Os maiores elevadores do mundo, os mais potentes, estão em Taiwan. Fiquei sabendo por um documentário do National Geographic Channel. Alguns têm dois andares. Velozes como nenhum outro, são até pressurizados, para não dilacerar os ouvidos dos que, subindo e descendo dentro deles, ainda sofrem da condição humana. Têm cabos tão poderosos que dentro deles não há trepidação (o engenheiro-chefe que os inventou precisa às vezes fazer sua viagem vertical do lado de fora da cabine, e é como se uma mosca viajasse a bordo de um trator: a uma pequena falha da engrenagem, a criatura-elevador seria capaz de destroçar seu criador). Mas todos estão serena e arrogantemente seguros de que essa falha é impossível. Um sistema oculto de suportes absorve qualquer impacto a cada andar, e ninguém jamais ficará preso naqueles elevadores.

Os tais elevadores ficam no edifício Taipei 101 Financial Building, o segundo mais alto – 508 metros – e talvez o mais poderoso e indestrutível, resistente a terremotos. Foi construído numa área de risco, com o propósito de violar todas as regras relativas ao risco, que é sempre agravado pela altura da construção. Abriga bancos, financeiras, inúmeros escritórios e lojas, muitas: 101 acima do solo e cinco abaixo. Parece que tanta segurança diverte os funcionários e construtores do prédio. O Taipei suporta todas as fúrias da natureza. Foi construído durante um grande abalo sísmico, e nada sofreu: tem vigas e megacolunas do tamanho de uma sala, e o espaço perdido com essas vigas é compensado pela superposição de inumeráveis andares (eram 141 em 2007, com capacidade para crescer ainda mais), estrutura sustentada por alicerces envoltos numa camada reforçada de concreto com três metros de espessura.

O prédio foi projetado como um desafio às piores situações e catástrofes, e ali tudo é tão brutal quanto os ventos do tufão, o tremor das entranhas do planeta e – quem sabe? – até as armas nucleares. Lá dentro, ao menos 10 mil pessoas passam a maior parte de seus dias (certamente mais breves que os do prédio). São 700 mil toneladas de cimento e aço. Tamanha grandiosidade não se destina a abrigar pessoas dispensáveis, mortais sem nada de especial. Não são czares nem soberanos nem provavelmente seres dotados de algum talento capaz de salvar a humanidade. O império de agora tem outros representantes e outros objetivos.

9 comentários:

Anônimo disse...

Extraordinário...
Mas a Natureza costuma ser implacável com as vaidades Humanas, e nada, mas mesmo nada é superior ao planeta em fúria. Esperemos que ele nos poupe ainda algum tempo às agressões que a Humanidade não lhe tem poupado de fazer.
Obrigado pela visita. :)

beijo e bom fim de semana tb

carlos

Cris disse...

Oi, linda..

Esses avanços de prepotência tecnológica me fazem pensar sempre "para quê?" , ao mesmo tempo que me encantam e me fascinam..rsrsr

Beijo, querida e ótimo fim de semana.(Vou para a casa dos mesu velhinhos daquí a pouco, delícia! ).

Bj

Lucia disse...

Nossa!! Se por um lado fico deslumbrada, por outro, fico apavorada. Indestrutível, eles dizem? Não sei. Penso mais que o tamanho da capacidade se equipara ao da prepotência. Enfim, deve ser algo bonito de ser visto. Claro que euzinha, que já cai num poço e fiquei presa num elevador, não entraria lá de jeito nenhum..rs
Beijos

Graça Pires disse...

"O império de agora tem outros representantes e outros objetivos".
Concordo e fico assustada.
Um beijo.

Milena Magalhães disse...

Hum... todos sabemos onde foi parar a torre de babel, né? Sem falar naqueles que voaram num tal 11 de setembro... Coisa estranha o homem::: tão afeito a esta superação que parece levar a nada, a não ser à vaidade ilimitada... Que sirva ao menos para salvar vidas, caso algo dê errado.

Um beijo.

Milena Magalhães disse...

E Adelaide, vc tem razão. Legal é quando as duas mulheres se juntam; é que no momento ou eu me fixo em uma ou a dor é bem maior...

Outro beijo.

Anônimo disse...

Adelaide, estou terminando a leitura do livro da Francine Prose. Você tem razão; realmente, não é grande coisa.

Quanto ao prédio, concordo que é de uma arrogância irritante, mas serve de "laboratório" para outras construções futuras, talvez mais úteis e mais democráticas.

Um abraço.

Cecília Borges disse...

como charlie comentou,
há sempre a questão das vaidades.
é bom sabermos até onde os egos podem brincar!

um bj!

Cris disse...

Cadê você, minha linda?

Excelente fim de semana . (rapidinho que está passando, não? )

beijos.