domingo, 24 de agosto de 2008

Paz


É mais do que sossego. Sossego é pouco mais que uma lagoa de águas paradas, e se for demais pode ser foco de doenças da alma, assim como a lagoa pode criar mosquitos que causem doenças do corpo.
Mais do que bem-estar, boa saúde, disposição, conforto físico. Mais do que segurança, que qualquer pitbull bem amestrado pode dar.
Nem mesmo tudo isso reunido é sinônimo de paz, que não depende de fatores externos.
Paz é ter uma lagoa cristalina dentro de si. Paz é ter um sol de primavera nas entranhas.
Estar feliz e bem consigo mesmo, ainda que a saúde não esteja lá essas coisas. Estar ancorado numa tranqüilidade meio misteriosa no mar encapelado da vida, que independe dos riscos reais, ainda que se esteja bem consciente da dimensão desses riscos. Paz é ainda saber bastar-se sozinho e ser boa companhia de si próprio, embora gostando da companhia dos outros.
Pode-se abrir mão do bem-estar e do sossego de boa vontade, durante o tempo necessário para ajudar alguém que precise de nós, e nem por isso perder a paz. Pode-se ter um horário de trabalho chato de cumprir. Pode-se trabalhar muito e no meio do corre-corre viver momentos da mais profunda paz. Pode-se ter problemas de família, conviver com gente difícil, experimentar instantes de certa raiva e nem por isso perder a paz.
Só em paz o cuidado de si e os bons momentos do amor e da amizade podem ser bem aproveitados e deixar suas marcas de alegria, a melhor de todas as terapias.
Paz é experimentar a intimidade e a solidão física com prazer, deixando aflorar boas lembranças, refletindo com calma ou simplesmente fazendo alguma coisa: estar só consigo pode ser uma aventura criativa sem paralelo nesse caso.
Se isso é auto-ajuda? Não sei, pode ser. Nem sempre a gente faz literatura. Mas também a literatura, como tudo que vale a pena, precisa dessa paz para acontecer.

7 comentários:

Graça Pires disse...

"Paz é ter uma lagoa cristalina dentro de si. Paz é ter um sol de primavera nas entranhas".
Paz é tudo o que disse e ainda o que não disse porque é, cada vez mais, um precioso bem.

Pode usar os meus poemas sempre que quiser. Eu agradeço a divulgação. Um beijo.

Cris disse...

Claro que a literatura também precisa de paz. Eu tenho paz quando estou aquí, sabia?

beijão, querida

ana v. disse...

Venho das lagoas dos Açores, querida Adelaide. Eu sei que a paz tem de estar dentro de nós, mas garanto que encontrá-la à nossa volta em todo o seu esplendor, é meio caminho andado...

Um beijo

Marcelo F. Carvalho disse...

Adelaide, sabe que essa descrição de Paz me fez refletir sobre quantas poucas vezes senti isso?
Pena pra mim.
Acho que vivemos muitos dias de não-paz...
Abraço forte!

Milena Magalhães disse...

Lembrei daquele poema de Arnaldo Antunes: "as coisas não têm paz". A sua paz é uma busca, não é? Mesmo quando ela esta instalada em nos, vem o vento, vem o furacão e a perdemos... para encontra-la mais adiante!

Um beijo.

Cecília Borges disse...

que bonito, Adelaide!

Anônimo disse...

Acho que paz é, primordialmente, você estar bem consigo. Quando isso acontece, o resto vem.