Durante alguns anos de minha vida, pensei que um dia seria dona de uma loja de objetos desses que a gente gosta de ganhar e de dar para fazer felizes as pessoas queridas. Há coisas que combinam com certas pessoas. Isso é tão verdadeiro, que às vezes se tem a certeza de agradar a um amigo, filho, namorado ou pai dando-lhe determinado objeto. Sou louca por essas coisas ditas inanimadas, mas capazes de animar as pessoas e fazer seus olhos brilharem.
Também gosto de ganhar presentes assim. É uma forma de expressar amizade, afinidade e carinho. Pelo tipo da lembrança se percebe o quanto quem nos presenteia realmente pensou em nós na hora de escolher. Quem não gosta de se sentir assim acarinhado? Para isso, um objeto não precisa ser necessariamente valioso e caro. Adoro por exemplo os feitos de palha, porta-guardanapos de madeira ou simples peças de louça de uso diário só pela beleza do desenho. Uma vez fiquei fissurada por uma molheira e não consegui seguir meu caminho antes de entrar na loja e levar para casa meu presente para mim mesma. Sem falar nos livros e músicas, um capítulo à parte.
Muitas mulheres correm a mudar a cor dos cabelos ou comprar roupas e sapatos quando estão tristes ou decepcionadas. Eu compro coisas, antes de qualquer outra providência. Também recorro ao cabeleireiro, é claro, mas nunca pintei os cabelos, de modo que faço um novo corte, uma boa massagem; às vezes vou procurar uma roupa nova – esses recursos que a gente tem, graças a Deus, pra mudar o exterior quando o interior está pouco convidativo. Mas antes passo em lojas de decoração até achar um cinzeiro original, um vaso bonito, um porta-retrato diferente. Tenho uma pequena coleção de caixinhas, adoro luminárias bonitas e estantes, que nunca são demais para os livros que chegam e sempre estão precisando delas. Mas há as almofadas e as mantas, quer coisa mais gostosa de escolher e ver em casa?
Meu pai tinha tinteiros de vidro que não sei onde foram parar, canetas de pena que ele molhava nos ditos, pesos de papel de cristal que me faziam sonhar e um mata-borrão que eu adorava vê-lo manejar sobre o papel de tinta fresca, além das canetas-tinteiro, como uma Parker preta listradinha de cinza que nunca esqueci. São objetos que trazem para nossa casa de adultos momentos da infância que eles testemunharam. Guardei dele, entre outras coisas, as sobrecapas de couro para proteger os livros, mas ficaram muito gastas e acabaram guardadas como relíquias.
Um objeto tem seu valor material, que pode ser menos ou mais alto, mas isso não interfere no efeito que ele nos causa. Quando se compra ou ganha algum, experimenta-se seu convívio como quem avalia um vizinho novo. Gosto de deixá-lo num lugar em que o veja a toda hora até que se integre ao dia-a-dia. De vez em quando é gostoso parar para conhecê-lo melhor; examinar, pegar e inventar novos lugares para pousá-lo até que se harmonize com a paisagem e o clima da casa. Quando isso acontece, pode-se sair procurando um lugar temporariamente definitivo para ele. É a prova de fogo, depois da qual quase sempre o estranho vira membro da família, parte do patrimônio da casa e merece afeto e cuidado.
Essa ligação com as coisas não incomoda ninguém e dá algumas alegriasinhas inocentes. Além do mais, é muito saudável exercitar o gosto pelo lugar onde se vive, e isso exige certa exclusividade para ser realmente nosso, original. Isso se consegue com uma decoração que pode ser simplérrima, porém cheia de toques pessoais, certa dose de inesperado e bom humor que faça a diferença. Nada a ver com luxo ou decoração estilosa. Como a poesia, tem tudo a ver com alegria de viver.
Também gosto de ganhar presentes assim. É uma forma de expressar amizade, afinidade e carinho. Pelo tipo da lembrança se percebe o quanto quem nos presenteia realmente pensou em nós na hora de escolher. Quem não gosta de se sentir assim acarinhado? Para isso, um objeto não precisa ser necessariamente valioso e caro. Adoro por exemplo os feitos de palha, porta-guardanapos de madeira ou simples peças de louça de uso diário só pela beleza do desenho. Uma vez fiquei fissurada por uma molheira e não consegui seguir meu caminho antes de entrar na loja e levar para casa meu presente para mim mesma. Sem falar nos livros e músicas, um capítulo à parte.
Muitas mulheres correm a mudar a cor dos cabelos ou comprar roupas e sapatos quando estão tristes ou decepcionadas. Eu compro coisas, antes de qualquer outra providência. Também recorro ao cabeleireiro, é claro, mas nunca pintei os cabelos, de modo que faço um novo corte, uma boa massagem; às vezes vou procurar uma roupa nova – esses recursos que a gente tem, graças a Deus, pra mudar o exterior quando o interior está pouco convidativo. Mas antes passo em lojas de decoração até achar um cinzeiro original, um vaso bonito, um porta-retrato diferente. Tenho uma pequena coleção de caixinhas, adoro luminárias bonitas e estantes, que nunca são demais para os livros que chegam e sempre estão precisando delas. Mas há as almofadas e as mantas, quer coisa mais gostosa de escolher e ver em casa?
Meu pai tinha tinteiros de vidro que não sei onde foram parar, canetas de pena que ele molhava nos ditos, pesos de papel de cristal que me faziam sonhar e um mata-borrão que eu adorava vê-lo manejar sobre o papel de tinta fresca, além das canetas-tinteiro, como uma Parker preta listradinha de cinza que nunca esqueci. São objetos que trazem para nossa casa de adultos momentos da infância que eles testemunharam. Guardei dele, entre outras coisas, as sobrecapas de couro para proteger os livros, mas ficaram muito gastas e acabaram guardadas como relíquias.
Um objeto tem seu valor material, que pode ser menos ou mais alto, mas isso não interfere no efeito que ele nos causa. Quando se compra ou ganha algum, experimenta-se seu convívio como quem avalia um vizinho novo. Gosto de deixá-lo num lugar em que o veja a toda hora até que se integre ao dia-a-dia. De vez em quando é gostoso parar para conhecê-lo melhor; examinar, pegar e inventar novos lugares para pousá-lo até que se harmonize com a paisagem e o clima da casa. Quando isso acontece, pode-se sair procurando um lugar temporariamente definitivo para ele. É a prova de fogo, depois da qual quase sempre o estranho vira membro da família, parte do patrimônio da casa e merece afeto e cuidado.
Essa ligação com as coisas não incomoda ninguém e dá algumas alegriasinhas inocentes. Além do mais, é muito saudável exercitar o gosto pelo lugar onde se vive, e isso exige certa exclusividade para ser realmente nosso, original. Isso se consegue com uma decoração que pode ser simplérrima, porém cheia de toques pessoais, certa dose de inesperado e bom humor que faça a diferença. Nada a ver com luxo ou decoração estilosa. Como a poesia, tem tudo a ver com alegria de viver.
9 comentários:
Pronto, Adelaide. Um assunto que cada uma entende bem : voc~e poesia, eu decoração..rsrsr . Acho que as afinidades estão aflorando. Teu texto é perfeito e cheio de sutilezas importantes para se ter um ambiente rico e aconchegante, que nada tem a ver com luxo ( ou luxúria, no caso da poesia??? rsrsr).
beijão.
Um texto muito bom. Mas fixei-me na última frase: "a poesia, tem tudo a ver com alegria de viver"
Para quê acrescentar mais alguma coisa?
Um beijo.
Fiquei curioso: e como é que se chamaria a tal loja imaginada de presentes perfeitos?
Um abraço.
Esse ano dou um jeito na minha casa. Ando precisadíssssimma. Nem faço idéia de como, mas que eu vou, eu vou!
E pq não ter a tal loja?? ;)
bjimm
Oi, Adelaide, às vezes te vejo no blog do Halem e hoje vim conhecer teu canto. Gostei bastante. Adorei isto:
"Hoje de manhã, quando descia para o trabalho, vi Kafka de pé num ponto de ônibus. Vestia um terno marrom escuro, paletó aberto, e uma gravata com toques castanho-dourados que lhe caía muito bem, um pouco agitada pelo vento. Olhava o mundo e o trânsito com a mesma cara que a literatura imortalizou, com menos gomalina nos cabelos. E imagino que agora terá tantos motivos de inspiração que talvez desista de escrever, porque a realidade já lhe tomou a frente, sendo atualmente mais kafkiana do que ele".
E me identifiquei muito com "as coisas que fazem a diferença". Eu so passei a gostar realmente de casa quando estes pequenos objetos foram surgindo na minha vida. E hoje a casa é toda assim: objetos cheios de memoria.
Um abraço.
Adelaide, comprei o Rousseau em Paris, edição da pleiade... e baratinho, porque foi num sebo. E eu preciso ler mais, porque sou professora de literatura, então...
Mas me dano a ler apenas o que quero! E tudo atrasa!
Um abraço.
Olá Adelaide,
que delícia de texto, presentes são muito bom de dar e de ganhar também.
O Halem atiçou minha curiosidade, você pensou em nome?ahaha
beijo
Olá,
eu de novo, não repare nas concordâncias, é culpa do teclado, hehe.
beijo
Oi Adelaide,
Estava com saudade dos seus textos. Hoje achei um tempinho. Posso visitar os amigos e curtir o que escrevem, principalmente os que o fazem assim tão bem. Também gosto de objetos, embora seja diferente, tenha dificuldade com os presentes. Outro dia cheguei à conclusão de que é por serem surpresas que me assustam. Sou muito controlador, não gosto de imprevistos.
Beijo grande
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