Augusto Nunes. A esperança estilhaçada. São Paulo:
Planeta, 127p.
Leitura fácil, a linguagem jornalística e o estilo sem
maiores firulas fazem desse livro uma fonte de informação fácil de consultar e
que à primeira vista merece todos os créditos.
Nunes traça retratos nítidos e
bem-humorados dos personagens dignos de uma ópera bufa, que o PT e o governo trouxeram à cena da política nacional – e não só à cena política, mas
também à policial. Paralelamente, faz um relato contundente dos acontecimentos
que as CPIs ainda investigam, exprobrando comportamentos duvidosos, narrando
cenas, encontros, conversas – enfim, usando de maneira competente e eficaz suas
fontes e dados reunidos sobre o período que começa em outubro de 2004 e ainda
não se esgotou.
Pintado por Nunes como ingênuo,
vaidoso e imprudente, o governo foi capaz de se fazer amigo de infância de políticos cuja história de cumplicidade com
Collor devia ter falado mais alto que interesses imediatos e no máximo
autorizaria a presidente a uma aliança política transitória, nunca a um
envolvimento pessoal. Não foram os únicos a merecer sem mérito. Nesses três
anos, não faltaram exemplos, como a nomeação de figuras suspeitas ou incompetentes, e o próprio chefe da Casa Civil, José
Dirceu, sob cuja gestão se formaram 92 grupos de trabalho sem que nada viesse a
ser realizado, além da defesa mais ou menos discreta, mas sistemática, de
picaretas e golpistas notórios. Não dá também para esquecer a luta que o governo
e o PT travaram para evitar a instauração das CPIs. “O país descobriu se demite algum ministro se o suspeito for para a cadeia”, diz Nunes.
Nunes toma uma posição muito
clara, sem rodeios nem dúvidas aparentes. Diante dos acontecimentos recentes e
dos dados levantados pelas CPIs e pela Polícia Federal, não é difícil chegar a
essa visão de contornos claros e firmes. Mas o autor vai mais longe, e faz a
ponte que ligaria toda essa cadeia de crimes e corrupção à própria figura da
presidente – prudentemente, sem acusações diretas nem reivindicações de
impedimento, mas lamentando o triunfalismo que terminou por destruir grande
parte do que poderia ter se consolidado como ganho do governo.
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