Tomou o metrô na
Siqueira Campos à tardinha. Vestia jaqueta de brim cinza, saia de leve algodão
florido e sandália de dedo branca e azul. Nos tornozelos, correntes prateadas.
Nos dedos – todos – anéis de variados tamanhos e materiais. O cabelo era louro
de farmácia, a pele queimada de praia, as unhas pintadas de preto. Óculos
escuros tipo deixem-me só. Carregava uma mochila meio ensebada azul-cinza de
náilon. Assim que sentou no canto da janela, penúltimo banco, escondeu o rosto
no braço, apoiado no rebordo da vidraça, e viajou assim imóvel até a Saenz
Peña, só os cabelos amarelos à vista. Esperou que o trem parasse e abrisse as
portas, e foi a última a sair. Flutuou na saia leve como se voasse escadas
acima, e se alguém fixasse o olhar em seu rosto veria as espinhas, mas isso não
aconteceu. Ela foi mais rápida. Cruzou o espaço entre a saída da estação e o
microônibus que a levaria até a Usina da Tijuca, acomodou-se no último banco da
direita, junto à janela, e tornou a mergulhar o rosto no braço dobrado.
Magrinha, miúda, imóvel e secreta.
No início da Rocha
Miranda, mochila afivelada às costas, montou na garupa da moto do piloto de
capacete negro, jaqueta de couro, bermuda jeans e chinelo de dedo.
— Tudo certo, gata?
— Já é.
Na Santa Clara, dona
Selma entrava no quarto e encontrava o armário aberto e as gavetas viradas no
chão. Logo dava falta das jóias e dos dólares, mais ou menos no momento em que
ela chegava ao ponto da Usina.
— A desgraçada! A
larápia! – vociferou. Nem ao menos sei onde essa infeliz se esconde. No segundo
dia de trabalho! Por isso saiu sem se despedir! E eu nem sei onde...
Um comentário:
Beleza de texto, Dade.
Beijos nossos
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