A violência não brota do nada. E não tem só uma ou duas
causas nem caras. Não pode ser reduzida a fórmulas, como se tende a fazer nas
situações limite. Do mesmo jeito esse objeto de desejo de tanta gente que se
chama paz. Assim como violência gera mais violência, uma cara cordial, um olhar
amigável e um sorriso desarmado convocam a paz no interlocutor. Pode ser
impossível em alguns poucos casos; mas na maioria das vezes não só é possível
como muito agradável. E faz bem à saúde.
As discussões sobre o assunto terminam muitas vezes num
charco estéril de narcisismo. Argumentos irredutíveis que perdem de vista a
questão concreta não servem para nada.
As discordâncias conceituais têm que existir e devem ser
debatidas. Mas se vierem pela voz da prepotência e da vaidade, perdem sua razão
de ser e servem apenas para engrossar o arsenal das farpas, muito útil a quem
pretende aproveitar a crise para se projetar ou – pior ainda – tirar vantagem
dela. Será que isso não é manifestação de violência?
No imaginário coletivo as represálias e a vingança parecem
ter-se tornado recursos legítimos contra quem, com ou sem intenção, cria
obstáculos ao interesse de alguém. A primeira atitude das pessoas é o revide,
que vai das palavras à agressão física. Refletir um pouco nessas horas é um
santo remédio para não pagar mico. Apesar das aparências, quem mantém o
autocontrole numa situação de confronto merece o respeito de todos.
Violência tem graus mas não escalas que a tornem mensurável.
É contagiosa, mas não existe medicamento eficaz contra ela, a não ser que se
consiga uma mudança íntima, pessoal, pela qual alguém se disponha a ceder um
pouco, ou ao menos mostrar-se aberto a isso, em nome de um entendimento melhor
com o próximo.
O mundo não se divide em pessoas boas e más como se já
estivesse tudo resolvido. Nada está resolvido, nem vai estar nunca. Sempre há o
que melhorar em nossa vida. Mas isso só acontece quando estamos convencidos de
que a paz resulta de uma atitude alerta para compreender, avaliar com lucidez e
livre da cegueira da ira, tão freqüente nestes dias de brutalidade. Se a
mudança não começar dentro de cada um, podemos dizer adeus à paz e à esperança
de viver melhor.