Ler é um diálogo monologado – o autor fala e o
leitor aproveita as deixas.
Pode-se gostar do que se lê ou ler por necessidade
de alguma informação, estudar ou se divertir. Mas assim como um filme que nos
toca mais fundo, uma música que se torna tão nossa que a partilhamos com o
autor e pesquisamos sobre ele para descobrir que afinidade é essa, um livro
pode ser uma peça de arte, um objeto útil ou raro, mas também um ente querido
responsável por momentos de muito prazer na vida.
Quase sempre as diferenças individuais determinam a
maneira como se lê. A não ser que você esteja frequentando uma oficina sobre o
assunto ou fazendo um treinamento para apurar e aproveitar melhor o ato da
leitura, normalmente segue a trilha aberta pelo próprio temperamento ou pela
própria neura.
Acredito que a maneira mais usual seja ler um
livro de cada vez até o final, a não ser que se desista antes disso – ou porque
não se desenvolveu ainda o hábito de ler e fica difícil concentrar a atenção,
ou porque o livro realmente não despertou interesse suficiente, e o tempo é
artigo raro demais para ser desperdiçado.
Mas conheço gente que lê o início, salta alguns
parágrafos, passa os olhos em outros, tenta entender tudo nessa dinâmica
saltadora e segue aterrissando aqui e ali até abrir as últimas páginas para ver
como acaba a história. Se houver muita familiaridade com o ato de ler, às vezes
se consegue captar assim o sentido geral do texto. Perde-se alguma coisa do
significado, mas pescam-se muitos peixinhos menores. E pode ser um prejuízo
sério, no caso de livros mais densos, estilos ricos e textos muito originais ou
recheados de dados interessantes de conhecer. Mas um leitor experiente sabe o
que está perdendo com esse comportamento errático e provavelmente só usará
esse modo pouco convencional de ler em textos mais rasos, narrativas simples
que não exijam muito de quem lê.
Não é raro que quem lê por hábito, e muito, leia
vários livros de modo simultâneo. E obviamente algum – ou alguns – será(ão)
sempre mais apreciado(s) que outro ou outros. O que acontece quase sempre é
leitura dinâmica nos casos mais leves e leitura continuada e reflexiva em
textos responsa. Costumo fazer isso, sem prejuízo nem culpa. É como se o texto
mais denso fosse a matéria principal e o outro, ou outros, a hora do recreio. O
que não consigo fazer é ler ao mesmo tempo dois livros importantes ou
superinteressantes, já que um texto desses exige minha atenção integral.
Nem é só atenção. Um livro envolvente, com o
qual nos identificamos e nos causa um prazer todo especial, implica também um envolvimento
afetivo que é quase uma paixão. Há livros que se leem para conhecer e outros
para conhecer e curtir. Mas em qualquer dos casos, sempre vale a pena, ainda
que seja para se manter em dia com o que está rolando, ganhar e aprofundar
conhecimentos ou, quem sabe, acertar numa escolha premiada.
Haja tempo e haja livros. Mas acima de tudo,
haja desejo.