sexta-feira, 23 de julho de 2010

Férias do blog

Como tudo nesta vida precisa de férias, repouso e mudança,
o blog vai dar um tempo.

Beijos gerais, obrigadíssima pela presença muito querida e até a volta.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Frágil é o leitor



     Isto não é uma resenha. Faltam rigor, isenção e distanciamento. Por isso, tenho que confessar que escrevo este comentário sobre Coisas frágeis, de Neil Gaiman, ainda intoxicada de admiração e entusiasmo. Houve momentos durante a leitura em que tive vontade de ser Gaiman. Não queria os prêmios dele, que fez tudo por merecer, e acho até que foram poucos. Não queria o renome, a juventude dele. Queria tão só ter sido capaz de escrever esse livro.
     Há muito tempo não releio uma obra. E tenho lido coisas muito boas, como os poemas de Leonardo Fróes, obras de Enrique Vila-Matas, Amós Oz, Dino Buzzati, Ricardo Piglia. Também nunca fui muito chegada a fantasias, bestsellers ou não. Raramente gostei de uma história que fosse além da realidade como a conhecemos, e assim de pronto só me lembro de ter adorado A outra volta do parafuso, de Henry James, ou as histórias mais para simbólicas de Italo Calvino. Mas tanto uma como as outras não pretendem assustar, fazer profecias ou causar espanto em ninguém. Ultrapassam a realidade conhecida com um objetivo ficcional, e acredito que seja esse o motivo principal de conquistarem o leitor com sua prosa surpreendente, mas não escapista ou alienante.
     Coisas frágeis, no entanto, é bem mais que um livro que se dá ao luxo de recorrer ao sobrenatural para reforçar um enredo, como acontece com o romance de James, ou exaltar a poesia das coisas, como faz Calvino em As cidades inivísíveis, inventando lugares inexistentes para avivar sentimentos e emoções que tratamos como lugares comuns no cotidiano ou no máximo merecem poemas previsíveis. Coisas frágeis simplesmente vai além da fronteira dos sentidos quase como uma homenagem à experiência sensível; um aprofundamento, uma espécie de pedagogia do real, um método que é como uma agravante. Isso fica patente na própria introdução, quando o autor escreve: “Parecia um belo título para um livro de contos. Afinal, existem tantas coisas frágeis. Pessoas se despedaçam tão facilmente, sonhos e corações também.”
     Acredito que toda a beleza soturna e estranha dos contos de Gaiman esteja baseada numa fabulação que não só desce às profundezas da dor humana, como se percebe no confrangedor “Lembranças e tesouros” ou em “O problema de Susan” – este último tomando como mote um dos Contos de Nárnia – mas também faz um levantamento magistral das extravagâncias de que somos capazes. Além disso, há a criatividade inacreditável de textos como “A vez de outubro”, “Os fatos no caso da partida da senhorita Finch” ou “Golias”, que ele escreveu por encomenda, para a divulgação do filme Matrix.
     Uma seleção de contos que não poderia ser mais feliz, de um autor de talento incomum, que além do mais expõe seu lado gente na introdução onde nos põe a par do processo por que passou cada narrativa – o que me parece de uma consideração apreciável com seus leitores. Haverá quem argumente que ele fez isso para se exibir um pouco mais. Paciência. As pessoas nunca ficam mesmo dentro dos limites do racional.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Paciência e perseverança

Digam o que disserem os pessimistas, façam o que fizerem os porcalhões de costume para driblar o impedimento eleitoral que o Ficha Limpa lhes impõe, acredito que demos um passo à frente.
Se tirarmos conclusões a partir de casos recentes, em que alguns desses membros do MSE (movimento dos sem ética) conseguiram driblar a lei e ganhar uma chance de candidatura, talvez isso se deva principalmente a que a Justiça Eleitoral desempenha um papel administrativo, de organização e normatização das eleições no Brasil – ou seja, é um ramo da justiça facilmente afetado pelos interesses políticos.
Paciência e perseverança, como diz uma amiga minha, pessoa dotada de grande sabedoria. Somos um povo de estressados, gente que tende ao imediatismo e outros ismos nada recomendáveis. Dificilmente recebemos uma notícia desanimadora sem liberar nossas fumaças de derrotismo e fatalismo. Outro ismo que só tem nos prejudicado historicamente, o conformismo, mora e dorme conosco no dia-a-dia. É ele que tanta vezes responde por erros e repetições lamentáveis, pela presença de tantos políticos eleitos e reeleitos, quando de direito deviam ter sido banidos do processo eleitoral, não por três ou oito anos, como em geral acontece, mas para todo o sempre. No entanto, o que existe de reincidentes e caras de pau entre os dessa classe é uma realidade um tanto desanimadora.
Acredito que a explicação mais evidente disso é que brasileiro é uma raça misericordiosa, capaz de se apiedar ou acreditar de novo em pessoas que já provaram por todos os As + Bs que nunca se apiedariam de ninguém, quando se trata de desviar recursos; gente que não refresca nem aqueles que lhe conferiram o benefício (indevido) de seu voto, a troco de qualquer gorjeta ou empreguinho instável e mal remunerado.
Acredito também que, além dessa característica quase óbvia do eleitorado da terrinha, e talvez tão importante quanto, falta essa virtude da paciência, falta persistência nas tentativas de consertar esse defeito da máquina eleitoral. Nosso povo não parece acreditar, mas tem muito mais poder do que pensa.
O Ficha Limpa talvez seja uma das iniciativas mais promissoras dos últimos tempos para justificar alguma expectativa de mudança. É apenas um primeiro movimento, mas com paciência e alguma perseverança podemos fortificar e prolongar seus efeitos, até que se consiga um saneamento mais duradouro.
Será que não está na hora de partir para uma outra espécie de Ficha Limpa, capaz de mostrar a nossos magistrados que estamos de olho neles e que não aceitamos manobras suspeitas para manter na ativa os aventureiros de plantão?